domingo, 31 de março de 2013

Discurso da Turma de 2009 - UNIMEP


QUEM AQUI QUER SER PROFESSOR?
Eu queria começar com algumas perguntas: Quem aqui quer ser professor?
Quem ainda pensa em ser professor no Brasil?
Quem vai querer perder os fins de semana corrigindo provas?
Quem vai querer passar suas horas vagas preparando aulas?
Quem, em sã consciência, vai querer além de tudo isso, lançar mão de toda sua criatividade para motivar o interesse de seus alunos?
Ninguém quer ser professor hoje em dia, certo?!
Mas e na infância, quantos de vocês já brincaram de escolinha? Principalmente as meninas. Vai dizer que você nunca chegou da escola, jogou a mochila no canto e se transformou na mestra em sua sala de aula imaginária?
Quantas crianças já imitaram a lista de chamada, o ensinar com paciência àqueles que tinham dificuldade em aprender, a maneira séria de distribuir provas entre as fileiras onde suas bonecas sentavam apreensivas?
 Todos nós em algum momento pensamos que seria muito bacana se pudéssemos transmitir o que sabíamos aos que estavam ali em nossa frente, sedentos pelo saber. Todos nós sonhamos um dia poder consertar a educação, ajeitar os alunos e dar um rumo novo ao nosso país.
Mas eu devo dizer, é trabalhoso. Não somos bem remunerados. Não somos valorizados. Não andam respeitando a gente ultimamente.
Quem então vai querer ser professor?
Quem aí vai querer passar quatro anos estudando Vigotsky, Paulo Freire, Chomsky e tantos outros?
Eu tenho essa resposta pra vocês. Eu lhes digo que apenas os ousados querem ser professor hoje em dia. Porque na realidade, escolher essa profissão é uma baita ousadia. É uma rebeldia sem tamanho não dar ouvidos ao que todos falam com propriedade de que NÃO, não somos bem remunerados, nosso trabalho não é reconhecido e de que nada vale tanto esforço já que muita coisa não vai mudar mesmo.
Nós não escutamos essas coisas. E passamos quatro anos estudando, perdemos noites de sono, lendo poesia, contos, textos. E depois ousamos mais uma vez, ousamos analisá-los, debatê-los, discordar desses autores todos. E por fim ainda, resolvemos escolher um tema, aprofundar nele, ler livros sem fim, porque uma pesquisa leva à outra e à outra e à outra. E fizemos nosso último trabalho na faculdade.
Ai nosso TCC!
Beiramos a loucura. O tempo que não ajudava nos apertava, e a gente...chorava. Porque não tinha outra coisa a se fazer naquela hora a não ser chorar. Mas então lembrávamos a ousadia e voltávamos a ler mais um pouco e rabiscar umas linhas, tentando escrever dessa vez nossa leitura, tentávamos adicionar o nosso ponto de vista. Petulância, talvez, mas o resultado foi que dessa turma saiu trabalhos completos, diversos e feitos com muita competência. E sabe de quem foi a culpa? Mais uma vez, dos professores.
É, dos nossos professores que também foram rebeldes um dia e escolheram trilhar essa mesma profissão. Eles que também tiveram paciência quando estávamos a ponto de trancar a matrícula no oitavo semestre. Loucura tentar ser professor. Insanidade QUERER ser professor.
E daí, depois de termos escolhido essa profissão, viemos parar aqui, na UNIMEP numa turma que iniciou em 2009. E o que dizer dessa turma? Doze pessoas, onze mulheres, UM homem, alguns com idade abaixo dos vinte, outros nos trinta e quarenta. Alguns conheciam apenas sua cidade ou outra, outros já havia visitado toda a Europa. Alguns frequentadores do barzinho da faculdade, outros não sabiam nem como chegava lá. Alguns já lecionavam outros nem sabiam se chegariam até o final desse curso.
Quer dizer, tinha tudo pra dar errado, pra ter discussões acaloradas, ideias diversas. E não é que teve mesmo? Essa turma de 2009 era tudo o que havia de mais heterogêneo, ninguém combinava com quase ninguém e, então, a seleção natural das amizades começou, os grupinhos foram se formando e numa sala tão minúscula de doze pessoas, era possível pensar, só de olhar na disposição das cadeiras, que toda aula era feita em grupos. Estudávamos juntos só que separados. Quanta distância.
Mas em nosso percurso aprendemos muito mais que Vygotsky, Chomsky ou Paulo Freire. Aprendemos lições da vida e para a vida toda. Entendemos nossas diferenças e enxergamos a competência de cada um. Aceitamos que apesar de eu não acompanhar muito Gossip Girl, por exemplo, eu podia aprender sobre tradução com essa série. Aprendi que apesar de não falar nada em Esperanto, eu poderia acrescentar muito em termos de linguagem, ouvindo todas as histórias Esperantistas nessa turma. Aprendi que cultura é fundamental num livro didático, que a língua franca das empresas multinacionais vai além de só saber falar inglês, que pronúncias nascem de maneiras inexplicáveis com o contato entre duas línguas. Que a literatura ajuda muito a motivar os alunos à leitura.
Eu aprendi que, apesar de achar que eu uso uma linguagem artística para escrever, seria também importante aprender a ter uma escrita acadêmica. Eu aprendi que apesar de uma professora parecer brava de arrepiar os cabelos, ela poderia ser uma amiga muito bem-humorada, por sinal. Eu entendi que ensinar não é só chegar à frente da sala e despejar meu conhecimento nos meus alunos, mas que era preciso prestar atenção também nos meus discursos e qual a posição do sujeito desse discurso.
Aprendi que eu posso dizer muito em 15 minutos, antes que a plaquinha de “faltam 5 minutos” se levantasse. Eu aprendi que aqui na faculdade, durante quatro anos, eu tive muito mias que professores e colegas de classe, eu encontrei parceiros de profissão, tão malucos e ousados quanto eu. Pessoas que também se diverte com seus alunos, profissionais que respeitam o outro antes de estar à frente de uma turma. Pessoas que enfrentam dificuldades e adversidades todos os dias pelo amor do ensino, pelo carinho de ver o outro aprendendo e nos superando.
Por isso tudo, meus amigos, quando vocês estiverem por aí e alguém perguntar de novo: ‘Quem hoje em dia vai querer ser professor?’ Façam-nos um favor e respondam: a Aline, a Daiane, a Laís, a Jaqueline, a Camila, a Vanessa, a Graziele, a Luciana, a Sabrina, a Gabriela, a Jéssica e o Guilherme. Nós queremos e somos professores.
Muito obrigada por tudo o que vocês me ensinaram. Parabéns a essa turma única e ousada.
Obrigada!

5 comentários:

  1. Prezada Luciana e demais formandos: parabéns pela formatura! Fico feliz que o esperanto tenha contribuído na formação de vocês. Acredito que o esperanto, tanto por sua estrutura linguística como por seu desenvolvimento ao longo de 125 anos, no seio de uma comunidade internacional, pode fornecer material riquíssimo para estudos, ainda subutilizado nas universidades. Quanto à carreira de professor: com certeza não é fácil e também não é valorizada. Mas por sorte existem pessoas obstinadas que insistem em se dedicar a ela; elas são imprescindíveis. "Gratulon!" (Parabéns!).
    Ivan Colling, professor da UFPR.

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  2. Parabéns aos formandos. Obrigado pela menção ao Esperanto, que, como bem disse o Ivan, tem um imenso potencial tanto como meio de comunicação, como prestando-se ao estudo de lingüistas nas universidades.
    Francisco S. Wechsler, prof. aposentado, UNESP

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  3. Obrigado pela menção ao idioma que une ideias de grupos dispersos por todo o planeta que é o Esperanto. Uma ideia genial que está criando o seu povo que cresce a cada dia.

    Parabéns aos formandos e sucesso sempre!

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  4. Parabéns, pela ousadia rebelde das 11 guerreiras. E parabéns a você, Guilherme, pós-graduando em Interlinguística e Esperantologia na UAM, universidade em Poznan, na Polônia. Além de guerreiro, um guerrilheiro cultural, transcultural, por trazer ao debate a falácia da comunicação internacional supostamente resolvida numa ordem linguística excludente e assimétrica. Bonvenon al via defia profesio!
    Paulo Nascentes - Prof. aposentado (Instituto de Letras/UnB)e professor de Esperanto no UnB Idiomas

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  5. Parabéns aos egressos e obrigado pela referência à língua internacional!

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