sábado, 30 de maio de 2009

Breve.

Hoje está sendo mais difícil que da outra vez.
Acho que é porque hoje te amo mais que antes.
Você me enganou de novo.
Acho que sozinha é meu estado natural.
Nossa, hoje está muito mais difícil.
Hoje está doendo muito mais.

(Pensamentos de alguém que ainda ama)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A PALAVRA

Há muito tempo que a palavra dança entre todos nós. Original do grego, emprestada para o latim, transformada para o Português, passada de mãos em mãos entre os escritores canônicos da nossa literatura. Desfila pelas linhas, sem deixar de visitar, vez ou outra, as entrelinhas. Se “arraaaaasta” nos textos mais difíceis, se enfeita nas poesias, se transforma em confiança quando dada a alguém, se apresenta técnica nos manuais, sonora na fala, brincalhona nas piadas, faminta nas receitas, e até ilusória em nossos sonhos. E agora, como que se quisesse dar uma pausa e brincar, me olha e pede para ser usada na crônica.
Como posso eu, uma aprendiz de escritora, ainda no auge dos meus vinte e tantos, estudante de professora, fazer uso desses pequenos conjuntos de morfemas, que, posto unidos, criam mundos, voando tão mais longe de onde já pude pensar em chegar? De que forma me permito organizá-las em orações e parágrafos, e dizer o que penso e o que bem entendo?
Não. De maneira alguma, ousaria uma quebra de braços com tamanha força de uma “parabolé”, como é chamada pelos gregos. Se elas aparecem, merecem minha atenção e meu trabalho.
Quão feliz seria, se tomasse as palavras por amigas e tivesse a companhia de todas elas quando anseio por me expressar mais e melhor. Isso sem comentar quando todas resolvem me faltar. “Ficar sem palavras”, quase nunca é bom, me perco na claridade do papel e na imensidão de pensamentos que não consigo traduzir nas ditas palavras.
Tenho medo dessas “donas da língua”. Nem me lembro quantas vezes já tentei escrever e, por conta de uma palavra errada, mal usada, mal colocada, ou sem as vírgulas para que elas pudessem descansar, tive como prêmio a temida revisão e ter que refazer, começar tudo de novo.
Portanto, hoje, quando as palavras me pedem para ser colocadas numa crônica, sinto um gelo na barriga e pavor dessa coisinha tão pequena em fonte 11. Porém, mesmo assim, já que apaixonada por todas sou, ouso tocá-las e mudá-las ao meu bel prazer.
A palavra. Escrita, falada ou cantada é sempre o começo de uma grande idéia.
Ou não!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

PARA VIVER BEM

Você tem que ser boa filha, boa mãe, boa esposa, boa menina, bom ser humano.

Tem que estar de braços abertos, de sorriso aberto, de pernas abertas. Ser cabeça aberta e gargalhar.

Gargalhar de mim, de você, do outro, da vida, do pobre, do rico, do político, do bandido e até do que não tem a menor graça.

Tudo tem que dar certo: seu emprego, seu imóvel, sua carreira, sua faculdade, sua conta bancária, seus centavos no final do mês, seu “look”, seu casamento.
E o que não der, faça melhor, remende, engesse, conserte, dê a volta por cima, por baixo, pelos quatro lados, mas faça acontecer. Se começou, termine!

Você deve saber foder, ser liberal, deixar acontecer, prevenir contra DST, matar e morrer de paixão, amar alguém e deixar esse alguém amar mais de três.

E ainda assim, podem te pedir para parar de reclamar, parar de pedir, parar de querer, parar de ser o que você é ou então, achar que você mostra o que não sente, que diz que gosta da coisa quando na verdade, gosta de gostar da coisa e por outro lado, não gosta de coisa nenhuma.

Tem que existir sucesso na sua vida, brilho, ascensão e tesão. Mas se você andar demais, se subir mais degrau que seu irmão, você será superior, arrogante e esnobe.
Dirão que você menospreza os amigos que não sabem falar, que não têm carteira recheada, cartão de crédito habilitado e desbloqueado, quando o fato real é que o vermelho está nas suas contas.

Aos domingos fique com sua família, leve-os para almoçar no shopping moderno da cidade, ainda que sua vontade seja de se trancar num quarto e chorar.
Caso algo saia errado, peça desculpas.
Elas não serão aceitas porque você estragou tudo, porque você não sorri, porque você acorda de mal humor todos os dias.
Mas peça porque te ensinaram a pedir.

Você não merece que tudo fique bem, que volte a ser legal pelo simples fato de você não ser perfeita.

E que perfeição é essa?

A coisa mais simples do mundo: seja exatamente como eu mando, agüente as pancadas, não chore muito, mas mostre sua sensibilidade, afinal você é humano.
Dose suas atitudes, saiba quando ouvir e quando fingir que escuta, fale de acordo com o que o outro quer ouvir, seja como a filha da vizinha, seja como a mãe de seu marido, seja a esposa que acorda feliz, que cozinha feliz, que limpa feliz, que transa feliz e que não anda com outros, aliás com mais ninguém.
Se seu marido quiser jogar, beber e comer por aí, mostre que é adulta e permita sem demoras.

Ajude os pobres, se compadeça com os menos favorecidos, com as vítimas do terror, da guerra e da miséria. Mostre espanto e nojo com o crime, com o tráfico e desprezo aos bandidos. Tranque sua casa antes de sair, se proteja com carros blindados, guarde bem seu celular, segure firma sua bolsa.

Separe o lixo orgânico do reciclável.
Alguns homens ferraram a natureza, mas agora é dever de todos nós salvar o planeta.

Plante uma árvore, mesmo tendo certeza de ela será derrubada daqui 5, 10 ou 15 anos para a construção de um shopping mais bonito que aquele outro.

Aprenda sobre os políticos, seu vocabulário vai aumentar. Mensalão, PAC, overbooking....você não conhecia isso tudo até o ano passado, conhecia?

Chore com o câncer de um desconhecido e viva leve para não pegar um também.

Você vai se deparar com algumas críticas construtivas e contraditórias:
“Você leva a vida muito a sério”.
“Quando você vai crescer e tomar as rédeas da sua vida?”.

Não ataque, não beba, não morra, não fume!
Cante, ame, escreva um livro, tenha um filho, use camisinha.


Escolha bem, pense bem, coma bem. Você é o reflexo do seu alimento.
Envelheça, veja os outros morrendo, enterre-os, reze por eles.


E quando todos estiverem dormindo, quando ninguém estiver espiando, desabafe, chore, ria rasgue, quebre, mude, traga, leve, pule, deite, se espalhe, se encolha ou então........
Escreva.
Feche o livro, guarde, esconda. E quando alguém despertar, diga:
"É, a vida é dura! Só chove ultimamente!”

Manual da Mente Humana

Será que os psiquiatras, psicanalistas e os estudiosos da área compreendem mesmo nossa mente?
Eu gostaria de entender ao menos a minha. E de quebra, conhecer melhor meus sentimentos.

Vou explicar.

Assistindo a um jogo de futebol, acreditem, meus braços e minhas pernas se arrepiaram.

Não deu pra entender?

Eu explico.

Os adversários eram Coréia do Norte contra Coréia do Sul. Se bem que nem posso usar a palavra “contra”. Eles mais estavam a favor um do outro. Um querendo, de alguma forma, se aproximar do “ET” que se mostrava no outro. Tinha até uma bandeira única, linda, com o país "sem fronteiras". Então, não deu pra aguentar. Oras, são países que há décadas se matam, matam inclusive seus sonhos. Eles obedecem a uma idéia de que um lado é o bom e o outro é o mau. Seguem a mais esmagadora das tradições.

E o arrepio?

Bem, foi o extravaso de esperança. Renovei minha fé no mundo e em todos os seres humanos.

Nesse mesmo dia, mais tarde, na mesma televisão vi um garoto de 16 anos que estava preso por suspeita de 12 assassinatos. É quase uma pessoa por ano, se o garoto tivesse nascido com uma arma em punho.

Então me interrogo: “Será que os médicos entendem a cabecinha desse adolescente que deveria estar sonhando com seu futuro brilhante ou elaborando o papo pra conquistar aquela gatinha...?”
Será que esse mundo tem jeito?

Aos 45 minutos do segundo tempo, questiono de novo: “Mudaram os adversários?”
De um lado dois rivais de países tão semelhantes e que parecem de espécies distintas. E do outro lado, um adolescente brasileiro que trocou o entusiasmo da idade pela frieza da matança.

E agora quem ganha?

Não ganha.

Aos 47 do segundo tempo, teremos pênaltis.

WHAT IF...

E se eu pudesse te levar pra casa?
E se fosse o contrário?
E se não te escutasse mais?
E se eu quisesse mesmo te amar?
E se “não” não fizesse parte de nós dois?
E se eu te quisesse tanto
Que acabasse te convencendo
De que o melhor é não reagir?

Estou tão cansada de não te ter
Estou me acabando em tanta solidão
Minha cama inundada com seu vazio.
E meu lado imerso num espaço sem fim.

Não agüento mais não senti-lo.
Chega de tanta distância.
Por que você não pára de resistir?
Sai desse esconderijo
Seu futuro está comigo.
E eu sei cuidar de você.

Me deixa te ver.
Me deixa te amar.
Me deixa mostrar

como é bom ter com quem dividir o peso de tudo.
Saber que estarei lá,
seja o que for.
Me deixa morar em seu ombro.

E se eu te quisesse tanto
Que você acabaria confiando em mim?
Entenda, quero te assistir dormindo.
Parar de procurar seu cheiro
No travesseiro, no lençol,
Na pele que é minha.

E se você não me quiser ainda?
Me ensina a apagar.
Apagar toda a beleza que você me deu.
Veja em que me transformei com você.
Um pouco do que nunca pensei.
E mais um pouco do seu próprio ser.

E se eu te pedir?
E se eu tentar?
E se eu morresse tentando?
E se depois você dissesse sim?
Não espere que eu vá embora.
Não deixe ser tarde demais.

domingo, 17 de maio de 2009

SUOR


Ela estava lá. Dentro daquela caixa grande de ferragens que já tivera vários nomes com o passar de gerações. O coletivo estava especialmente lotado naquela manhã e a moça de meia-idade já começava a suar. Nada de mais irritante que sentir aquele filete de riacho escorrer pela sua cervical, por sobre a pele já bem hidratada.

Um entra, outro entra, ninguém sai. Um pede licença, a criança chora, a idosa reclama do joelho que insiste em não engrenar. E nossa moça observa o martírio matinal de cada um. E o seu? E a vontade que lhe cegava a garganta? Ela sentia como se todas aquelas pessoas estivessem condenando seu querer, como se pudessem ler em sua própria pele o cheiro exalando o desejo. E se tirasse de dentro de sua bolsa o alívio quente? Crucificada seria. Se não por todos, pela maioria. Queimariam-na entre os assentos como uma herege da Idade Média.

Entre esses pensamentos, a raiva lhe aumentava tal qual o filete de riacho que se transformara num intenso oceano de suor. Mais uma parada e enfim, seu martírio acabaria. E assim se sucedeu. O motorista freou e toda a população do coletivo desafiou a gravidade, se encostando entre barras e braços e pés. Ela desceu. Enfim, estava livre para ser e fazer o que agradasse seu bel prazer. Meteu a mão na bolsa, que mais parecia um arquivo morto em toda sua extensão, e então, ascendeu a brasa daquele derradeiro e mortal cigarro. E, soltando a fumaça, degustando a agradável sensação de ter companhia, olhou os olhares de duas crianças que a imitava do outro lado da rua. E sentiu a nascente do riacho em suas costas novamente.

Luciana Romano.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Despetalado


Dizem que "toda mulher gosta de rosas".
Rosas.
Cheirosas.
Veludas ou espinhosas.
Intensas e maravilhosas.
Aquele ramalhete quando chega,
envermelhando nossas faces, vibrando nossos olhares, inversando nosso sangue,
traz em cada pétala um texto.
De desculpas, de pêsames, de pesares, de contenta e descontentamento,
de amor, de ex-rancor, de dor e de calor.
E há quanto, não atendo o ramalhete à porta?
Há quanto, cartão algum é aberto buscando uma assinatura?
Há tanto quanto não mais o encanto.
Descanso, pois exausta me vejo.
Des-cansar,
Ex- cansar.
O que pesava, agora dissipa e não vai embora.
Um casal descasado,
ao acaso jogado.
Dois sem nenhum,
sem rosas, sem aromas, sem quase nada.
Um nada envelhecido,
amarelo de tanto tentar alvejar,
Salvar o já desencarnado.
Roubar a tela translúcida da alegria que convém.
Quem será por nós?
Quem nos esconderá de nós dois para não nos matarmos?
Condenados estamos ao aroma do desamar.
Não mais te querer, desejando rosas e uma pétala de desculpas.
Intensamente clamando por dentro
'Me abraça, me toma.'
E com cara feia, o deixando se afastar.
Não indo de encontro à mão estendida e o peito rasgado.
Te amo. E escrevo isso a outros.
Pura falta de coragem.
Te encarar dói aqui embaixo, dói quando falo.
Olhar-te pela frente, espeta-me o juízo.
É prejuízo.
É impossível.
Te amo e nada mais tenho a declarar.

Teu amor.

Eu me desfaço.
Me disperdiço.
Me contamino
pelo teu amor que é minguante,
que é oculto,
que é tudo o que tenho,
que me ergue aos céus congelantes
até a estratosfera delirante.

Teu amor apenas é o que deve ser.
Nada além, nada aquém.
E a quem o tem, resta apenas
o derradeiro gozar!