quarta-feira, 30 de março de 2011

Love (very short story)

I don't think about love.
I just write about it.

I don't feel it.
People say it's out there.

Is it?
What did you expect?
You see, I'm a writer!!!

terça-feira, 15 de março de 2011

Saudades

Sabe do que eu mais sinto saudade?
Daquele jeito tão fácil de lidar com as pessoas.
Daquele carinho artístico que eles me olhavam.
Era como se nós todos fôssemos iguais.
E não é que éramos mesmo?...

Um jeito tão alegre, tão sem pretensões.
Me fazia acreditar que eu podia escrever, que eu podia gritar.
Uma forma de ver o mundo que eu nunca encontrei em nenhum outro lugar.
Eles me permitiram ousar.
Mesmo que esse ousar se resumisse a beber até não se aguentar nas pernas.
Mesmo que esse ousar fosse algo como falar besteira até dormir.

Enfim, naquele lugar eu soube me enxergar verdadeiramente.
Soube enxergar os outros verdadeiramente.
Ainda que isso me causasse dor.
Ainda que eu sentisse frio no meio de um carnaval.
Lá naquelas terras onde o Salvador é nosso norte,
eu me vi, eu te vi e vi tudo aquilo que compõe um universo desfeito, refeito e quebrado.
Foi lá que consegui juntar minhas migalhas, me reconstruir,
e acima de tudo, amar sem nenhum pudor.
Amar à exaustão.
Foi lá, e só lá, que eu recriei minha alma.
E assim fazendo, me vi diante de tanta beleza na Contorno.

Salvador, soteropolitanos,
Com vocês eu, hoje, sou muito mais completa.
E eu sei que por mais que eu tente, jamais vou conseguir transmitir esse amor.
Nunca vou transcrever o que sinto toda vez que vejo aquele Bambuzal.

Enfim, hoje eu senti essa saudade.
Saudade que é quase gostosa.

sábado, 12 de março de 2011

Pacífico

O cara era daquele tipo sossegado, sabe como é?!
Não entrava numa discussão por nada nesse mundo. Achava que era sempre melhor dizer: "Acho que você deve ter razão, então." Isso evitava que a conversa prolongasse por muito tempo. Aliás, ele não gostava muito de conversas. Acreditava que era um desperdício de tempo. Tanto blá, blá, blá, pra no final cada um continuar com suas convicções.
Enfim, ele era meio paradão. A começar pelo seu nome Pacífico. A intenção da mãe foi muito boa, mas carregar esse símbolo pro resto de sua vida não foi fácil.Quando ele era criança, quanta pegação no pé. Ele se estressava às vezes, mas nunca revidava. Preferia dar um sorrisinho amarelo e seguir seu rumo. Com o tempo ele passou a usar um adereço, uma rosa branca no bolso. Sabe-se lá, na ideia dele combinava com o conjunto que o formava.
Pacífico teve alguns amores. Dois, na verdade. A primeira tinha 6 anos, quando eles estavam no Jardim de Infância. É claro que um garoto de 6 anos não saberia explicar logicamente aquele sentimento, mas ele era amarradão naquela loirinha. Ela era muito graciosa. Seu único problema era que ela sabia disso. Sabia muito bem. E usava isso a seu favor. Esse romance durou até eles mudarem de escola. Depois disso, Pacífico resolveu nunca mais amar ninguém.
Até seus 18 anos, quando ele conheceu Clarinha. Ela tinha 19. Além de mais velha, ela era tudo o que um rapaz queria. Era popular, linda e super esperta. Seu único problema era não gostar nenhum pouco do nosso amigo Pacífico. Ela achava tudo muito "deprimente", como ela mesma dizia. Seu nome, sua aparência, seu visual e mais ainda, seus sentimentos por ela. Sem falar naquela rosa branca totalmente fora de contexto.
Foram várias tentativas de aproximação. Sim, porque Pacífico não se contentava em ouvir um simples "não". Ele queria saber o por quê. E essa mania de querer saber a razão de tudo já o tinha colocado em várias confusões. Só que dessa vez ele insistiu.
Um dia, no final da aula, ele prendeu Clarinha no banheiro. Ela gritou até não poder mais, mas ninguém a ouviu. Era tanto barulho de todos aqueles jovens saindo da escola, que até o sinal era difícil escutar.
Pacífico estava decidido a entender aquela doce garota. E caso ele não a entendesse, estava decidido a se vingar por todas as humilhações, por todos os foras, por todas as vezes que ela o ignorou.
Seu plano era infalível e rápido. Ele perguntou apenas uma vez: "Por que você não gosta de mim do mesmo jeito que eu gosto de você? E eu gosto tanto de você!"
Ela, mais uma vez respondeu com o óbvio: "Por que você é deprimente."
Então, ele desistiu de entender. Aquela garota que ele tanto amava, infelizmente não tinha alma. Essa era a única explicação cabível. Por isso, o próximo passo era a vingança.
Tirou sua mochila das costas e se preparou. Enquanto ela se distraiu no espelho, ajeitando seu cabelo tão perfeito. Retocou o batom tão perfeito, lavou as mãos tão perfeitas. E quando estava pronta pra sair daquele banheiro, se voltou para Pacífico, dizendo: "Tá, agora já chega. Estou saindo daqui!"
Pacífico, pacificamente, enrolou a corda de pula-corda em seu pescoço e fez tanta força, aliás, nunca tinha se esforçado tanto em todos seus 18 anos. Ele viu sua amada Clarinha ficando vermelha. Aquela pele tão rosadinha, agora parecia um carvão em brasa. Depois de mais alguns segundos o vermelho virou roxo. Um roxo gritante, ou era ela que tentava falar alguma coisa. Mas Pacífico não estava mais interessado. Agora nada mais que ela quisesse, pensasse ou dissesse importaria ao nosso pacto rapaz.
Como ele não dispunha de tanto tempo e nada de diferente acontecia a não ser aquele roxo agonizante, ele apertou com o restante de sua força. Até que ele sentiu todo o peso de sua amada em seus braços. Gentilmente, ele a abraçou e beijou sua boca há tanto tempo desejada.
No chão do banheiro ficaram Clara, completamente roxa, a corda e a rosa branca.

Hoje ninguém sabe onde anda Pacífico. Dizem que ele enlouqueceu, que ele foi preso, que ele se matou. Enfim, todas essas conversas fiadas que se ouvem por aí. Mas a bem da verdade é que vez ou outra encontram-se rosas brancas aqui e ali.

sábado, 5 de março de 2011

Obviamente

Ela começou de manso. Apareceu na minha frente como quem nada queria. Se fez de malvada e assim conseguiu minha atenção. Me cercou por todos os lados, preenchendo minhas brechas, animando minha fenda. Desse lado da história estão todas as horas que penso em ti. Que fico de quatro por ti. Que procuro a pronúncia perfeita, a palavra certeira, o olhar apontado a mim. Correndo pra te alcançar sem chegar nem a seus fragmentos. Literariamente, nem pretendo ler suas linhas. Nem espero seu consentimento. Te amo sem permissão.
Já sei que não há romantismo. Já entendi que não sabe ser gentil. Que tudo o que pensa de mim é obviamente dilacerante. Aprendi a viver com sua metade, com apenas uma parte, com quase migalhas. Mas te peço que não roube de mim o balançar de seus cabelos e o balbuciar de suas palavras.
Quando nada mais me resta ou me restar, ao menos terei sua simpatia rasgante. Essa simpatia que é quase boa.