QUEM AQUI QUER SER PROFESSOR?
Eu
queria começar com algumas perguntas: Quem aqui quer ser professor?
Quem
ainda pensa em ser professor no Brasil?
Quem
vai querer perder os fins de semana corrigindo provas?
Quem
vai querer passar suas horas vagas preparando aulas?
Quem,
em sã consciência, vai querer além de tudo isso, lançar mão de toda sua criatividade
para motivar o interesse de seus alunos?
Ninguém
quer ser professor hoje em dia, certo?!
Mas
e na infância, quantos de vocês já brincaram de escolinha? Principalmente as
meninas. Vai dizer que você nunca chegou da escola, jogou a mochila no canto e
se transformou na mestra em sua sala de aula imaginária?
Quantas
crianças já imitaram a lista de chamada, o ensinar com paciência àqueles que
tinham dificuldade em aprender, a maneira séria de distribuir provas entre as
fileiras onde suas bonecas sentavam apreensivas?
Todos nós em algum momento pensamos que seria
muito bacana se pudéssemos transmitir o que sabíamos aos que estavam ali em
nossa frente, sedentos pelo saber. Todos nós sonhamos um dia poder consertar a
educação, ajeitar os alunos e dar um rumo novo ao nosso país.
Mas
eu devo dizer, é trabalhoso. Não somos bem remunerados. Não somos valorizados.
Não andam respeitando a gente ultimamente.
Quem
então vai querer ser professor?
Quem
aí vai querer passar quatro anos estudando Vigotsky, Paulo Freire, Chomsky e
tantos outros?
Eu
tenho essa resposta pra vocês. Eu lhes digo que apenas os ousados querem ser
professor hoje em dia. Porque na realidade, escolher essa profissão é uma baita
ousadia. É uma rebeldia sem tamanho não dar ouvidos ao que todos falam com
propriedade de que NÃO, não somos bem remunerados, nosso trabalho não é
reconhecido e de que nada vale tanto esforço já que muita coisa não vai mudar
mesmo.
Nós
não escutamos essas coisas. E passamos quatro anos estudando, perdemos noites
de sono, lendo poesia, contos, textos. E depois ousamos mais uma vez, ousamos
analisá-los, debatê-los, discordar desses autores todos. E por fim ainda,
resolvemos escolher um tema, aprofundar nele, ler livros sem fim, porque uma
pesquisa leva à outra e à outra e à outra. E fizemos nosso último trabalho na
faculdade.
Ai
nosso TCC!
Beiramos
a loucura. O tempo que não ajudava nos apertava, e a gente...chorava. Porque
não tinha outra coisa a se fazer naquela hora a não ser chorar. Mas então lembrávamos
a ousadia e voltávamos a ler mais um pouco e rabiscar umas linhas, tentando
escrever dessa vez nossa leitura, tentávamos adicionar o nosso ponto de vista.
Petulância, talvez, mas o resultado foi que dessa turma saiu trabalhos
completos, diversos e feitos com muita competência. E sabe de quem foi a culpa?
Mais uma vez, dos professores.
É,
dos nossos professores que também foram rebeldes um dia e escolheram trilhar
essa mesma profissão. Eles que também tiveram paciência quando estávamos a
ponto de trancar a matrícula no oitavo semestre. Loucura tentar ser professor.
Insanidade QUERER ser professor.
E
daí, depois de termos escolhido essa profissão, viemos parar aqui, na UNIMEP
numa turma que iniciou em 2009. E o que dizer dessa turma? Doze pessoas, onze
mulheres, UM homem, alguns com idade abaixo dos vinte, outros nos trinta e
quarenta. Alguns conheciam apenas sua cidade ou outra, outros já havia visitado
toda a Europa. Alguns frequentadores do barzinho da faculdade, outros não
sabiam nem como chegava lá. Alguns já lecionavam outros nem sabiam se chegariam
até o final desse curso.
Quer
dizer, tinha tudo pra dar errado, pra ter discussões acaloradas, ideias
diversas. E não é que teve mesmo? Essa turma de 2009 era tudo o que havia de
mais heterogêneo, ninguém combinava com quase ninguém e, então, a seleção
natural das amizades começou, os grupinhos foram se formando e numa sala tão
minúscula de doze pessoas, era possível pensar, só de olhar na disposição das
cadeiras, que toda aula era feita em grupos. Estudávamos juntos só que
separados. Quanta distância.
Mas
em nosso percurso aprendemos muito mais que Vygotsky, Chomsky ou Paulo Freire.
Aprendemos lições da vida e para a vida toda. Entendemos nossas diferenças e
enxergamos a competência de cada um. Aceitamos que apesar de eu não acompanhar
muito Gossip Girl, por exemplo, eu podia aprender sobre tradução com essa
série. Aprendi que apesar de não falar nada em Esperanto, eu poderia acrescentar
muito em termos de linguagem, ouvindo todas as histórias Esperantistas nessa
turma. Aprendi que cultura é fundamental num livro didático, que a língua
franca das empresas multinacionais vai além de só saber falar inglês, que
pronúncias nascem de maneiras inexplicáveis com o contato entre duas línguas.
Que a literatura ajuda muito a motivar os alunos à leitura.
Eu
aprendi que, apesar de achar que eu uso uma linguagem artística para escrever,
seria também importante aprender a ter uma escrita acadêmica. Eu aprendi que
apesar de uma professora parecer brava de arrepiar os cabelos, ela poderia ser
uma amiga muito bem-humorada, por sinal. Eu entendi que ensinar não é só chegar
à frente da sala e despejar meu conhecimento nos meus alunos, mas que era
preciso prestar atenção também nos meus discursos e qual a posição do sujeito
desse discurso.
Aprendi
que eu posso dizer muito em 15 minutos, antes que a plaquinha de “faltam 5
minutos” se levantasse. Eu aprendi que aqui na faculdade, durante quatro anos,
eu tive muito mias que professores e colegas de classe, eu encontrei parceiros
de profissão, tão malucos e ousados quanto eu. Pessoas que também se diverte
com seus alunos, profissionais que respeitam o outro antes de estar à frente de
uma turma. Pessoas que enfrentam dificuldades e adversidades todos os dias pelo
amor do ensino, pelo carinho de ver o outro aprendendo e nos superando.
Por
isso tudo, meus amigos, quando vocês estiverem por aí e alguém perguntar de
novo: ‘Quem hoje em dia vai querer ser professor?’ Façam-nos um favor e
respondam: a Aline, a Daiane, a Laís, a Jaqueline, a Camila, a Vanessa, a
Graziele, a Luciana, a Sabrina, a Gabriela, a Jéssica e o Guilherme. Nós
queremos e somos professores.
Muito
obrigada por tudo o que vocês me ensinaram. Parabéns a essa turma única e
ousada.
Obrigada!